PAVIMENTOS ASFÁLTICOS X PAVIMENTOS RÍGIDOS
CUSTOS DE IMPLANTAÇÃO

A escolha da solução de pavimentos asfálticos ainda se justifica pelo seu custo de implantação no cenário econômico atual?

Rafael Batezini
Engenheiro civil
Dr. Sc. – especialista em pavimentação
Historicamente, os pavimentos têm sido divididos em duas grandes categorias – pavimentos flexíveis e pavimentos rígidos -, que se caracterizam essencialmente em função do seu comportamento mecânico frente às solicitações do tráfego. Outra classificação importante se refere aos tipos de materiais constituintes de cada estrutura, sendo que os pavimentos flexíveis possuem revestimento asfáltico, enquanto os pavimentos rígidos são construídos com revestimento em concreto de cimento Portland.

No Brasil, em geral, é muito comum a opção de se utilizar pavimentos asfálticos ao invés de pavimentos de concreto, tanto em obras de pavimentação urbana quanto rodoviária. Tal decisão, além do apelo cultural frente a tecnologia dos materias asfálticos, sempre esteve embasada também em critérios econômicos de curto prazo, visto que “pavimentos asfálticos possuem custos de implantação menores quando comparados aos pavimentos de concreto”.

Por outro lado, a prática internacional indica que pavimentos de concreto, quando devidamente projetados e executados, são caracterizados por apresentar vida útil prolongada em relação aos pavimentos asfálticos, tendendo a trazer economia para as obras de pavimentação a longo prazo, uma vez que a necessidade de manutenções é menor.

Buscando-se uma comparação atualizada quantitativa em relação aos custos de implantação de ambas as soluções, foi realizado o dimensionamento de duas estruturas de pavimento (asfáltico e de concreto) para as mesmas condições de tráfego e de suporte do subleito, além da avaliação do custo de execução de ambas as estruturas para os anos de 2015 e 2019, utilizando-se as tabelas de preço unitário do DER/SP como referência de preço.

Os pavimentos foram dimensionados considerando um subleito com CBR igual a 8%. Em termos de solicitações de veículos, foi considerado tráfego pesado e períodos de projeto de 10 anos e 20 anos para os pavimentos asfáltico e de concreto, respectivamente, sendo:
• Pavimento asfáltico: NUSACE igual a 4×107 e NAASHTO igual a 1,69×107;
• Pavimento de concreto: NUSACE igual a 8,51×107 e NAASHTO igual a 3,60×107.

Para o dimensionamento foi empregada a metodologia do DER/SP, que tem por base o método de dimensionamento do antigo DNER (1981) além de verificações mecanicistas pertinentes para o pavimento asfáltico, e a metodologia da AASHTO (1993) para o pavimento de concreto. Os parâmetros utilizados no dimensionamento seguiram rigorosamente aqueles empregados em projetos na prática brasileira. Na Figura 1 estão apresentadas as estruturas dimensionadas.

Figura 1. Estruturas de pavimento asfáltico (esquerda) e de concreto (direita). Medidas em metro

Na Tabela 1 estão apresentados os preços por m² de implantação de cada estrutura, considerando a tabela de preços unitários não desonerados do DER/SP com as datas-base de set/2015 e set/2019. Na Figura 2 está apresentada a comparação entre os preços determinados.

Tabela 1. Determinação dos preços unitários para implantação dos pavimentos asfáltico e de concreto para os anos de 2015 e 2019

Ao se avaliar o resultado da análise de custos, observa-se que, em 2015, o preço por m² de implantação do pavimento de concreto era aproximadamente 26 % maior que o preço para implantação do pavimento asfáltico para uma mesma situação de tráfego e condições do subleito. Curiosamente, em 2019 essa correlação foi inversa, sendo que o preço para implantação do m² do pavimento asfáltico resultou aproximadamente 6% maior que o preço de implantação do m² do pavimento em concreto.

Tal inversão nos custos de implantação se deu basicamente em função do ajuste elevado no preço dos ligantes asfálticos ao longo do tempo. Na Figura 3 está apresentada a evolução dos preços de pavimentos de concreto de cimento Portland e de ligantes asfálticos entre os anos de 2001 e 2019, de acordo com o índice de reajustamento de obras rodoviárias do DNIT.

Figura 3. Reajuste dos preços de pavimentos de concreto e de ligantes asfálticos ao longo do tempo

Ao analisar o gráfico de evolução de preços, observa-se que desde 2001 até o início de 2016, o reajustamento entre ambos os itens analisados ocorreu de maneira similar. Entretanto, após o início de 2016 e o final de 2019, observa-se um deslocamento significante entre as curvas de reajustamento, uma vez que preço dos ligantes asfálticos aumentou em uma taxa muito maior quando comparado ao reajuste dos pavimentos de concreto, que se mantém em taxa relativamente constante.

Assumindo-se que o preço dos ligantes possui um peso considerável no custo total dos pavimentos asfálticos, o aumento no preço de implantação do pavimento asfáltico, que chegou ao ponto de ultrapassar o custo de implantação do pavimento rígido, se justifica.

Considerando-se as análises apresentadas, além do respaldo técnico internacional referente às questões de viabilidade econômica a longo prazo no uso de pavimentos de concreto, desde que corretamente dimensionados e executados, entende-se que, na atualidade brasileira, não se justifica mais que a grande maioria das soluções de pavimentação sejam predominantemente em pavimentos asfálticos.

Cabe pontuar que as análises aqui realizadas se referem especificamente às questões de viabilidade técnica e econômica da implantação dos tipos de pavimentos analisados, não sendo levado em conta as questões de manutenção dos pavimentos, entre outros aspectos.